3.1. Mobilidade e acessibilidades

A crescente mobilidade a que o mundo tem assistido nos últimos tempos, tem vindo a proporcionar aos indivíduos um significativo aumento da liberdade individual na forma como este pode gerir a sua vida quotidiana.

Com efeito, a acessibilidade aos locais também tem vindo a melhorar com a construção de infra-estruturas viárias, ferroviárias, aéreas e portuárias. Este facto aliado às novas tecnologias da comunicação e informação permite hoje uma grande diversidade de escolha quanto aos locais de lazer, de trabalho e para residir.

Contudo e ao contrário do que se possa pensar, este facto não significa necessariamente um aumento de qualidade de vida das populações. O facto de se promover constantemente o despovoamento dos centros das cidades e o consequente crescimento das periferias urbanas, em muito tem contribuído para o aparecimento de espaços de congestionamento que ajudam à deterioração da qualidade de vida do nosso território.

Este desordenamento suscita um aumento das deslocações, que são maioritariamente motorizadas e predominantemente em transporte individual.

Porém, não podemos ignorar as necessidades de deslocação diárias, que são naturalmente muitas e cada vez mais. Neste sentido e na perspectiva de minorar os impactes negativos das nossas deslocações pendulares, propomos analisar alguns aspectos que devem ser levados em consideração.


3.1.1. Trânsito

Nas suas visitas ao local onde planeia vir a morar verifique o trânsito a diferentes horas do dia e em diferentes dias da semana. Pode experimentar fazer um ou dois dos percursos que mais irá usar, procurando perceber se os acessos são eficientes.

Por exemplo, tente simular um regresso a casa, do emprego, a uma sexta-feira à tarde, para verificar se irá ou não ficar parado em filas de trânsito.


3.1.2. Estacionamento

O estacionamento é uma das principais preocupações das cidades de hoje. Ainda que a casa que está a planear adquirir ou arrendar possa ter lugares de estacionamento para residentes, lembre-se que é importante saber se, por exemplo, aqueles que o visitam terão espaço para estacionar o carro. Lembre-se de que uma casa num bairro histórico, sem estacionamento, pode ser a ideal para si, mas se gosta de reunir a família num almoço semanal deverá pensar onde os avós, já com alguma idade, irão deixar o carro. Isto também se aplica a casas fora das cidades, onde o estacionamento representa também já um problema. Por vezes, observamos moradias construídas junto a estradas principais, onde o espaço para estacionar é inexistente.


3.1.3. Acessibilidade a transportes colectivos

Ainda que planeie fazer todas as suas deslocações de carro (o que, naturalmente, desaconselhamos, pois aumenta consideravelmente a sua pegada ecológica, é fundamental conhecer as opções existentes, em termos de transportes colectivos. Assim, aumenta o seu leque de escolhas, caso queira deixar de andar de carro ou não o possa utilizar temporariamente. Para além disso, pense nos seus amigos e nos amigos dos seus filhos, que poderão não ter carta de condução ou carro para o visitar!


3.1.4. Acessibilidade para todos

Um outro aspecto a considerar é a acessibilidade universal à sua nova casa e nas imediações desta.
Verifique se o local escolhido é um espaço onde existem passeios rebaixados, acessos facilitados aos edifícios e aos estabelecimentos comerciais, se tem elevador e qual o seu tamanho. Este pode não ser um aspecto essencial para si, se é jovem e procura uma casa para alugar apenas por algum tempo, mas não deixa de ser importante pois ninguém está livre de ver a sua mobilidade reduzida a qualquer momento, seja por decidir aumentar a família, ou por uma situação pontual, por exemplo ter tido um acidente.


3.1.5. O custo da mobilidade

Suponhamos então que encontrou a casa ideal em termos de mobilidade e acessibilidades – sem trânsito, com autocarro à porta, acessos universais no prédio e no bairro, com espaço para estacionamento. Contudo, se esta casa se localizar a largos quilómetros do seu local de trabalho, esta acessibilidade ganhará um custo muito elevado, quer em termos de tempo para percorrer essa distância, quer no dinheiro gasto para a percorrer.

Não se esqueça que, ao preço da casa, terá de somar o custo mensal em deslocações (passe social, gasolina, gasóleo ou GPL, portagens, manutenção e desgaste do carro). Aconselhamos que o faça tendo em vista um cenário provável do aumento do custo dos combustíveis. E não esqueça que ao aumentar a sua produção de CO2, não está a contribuir para as melhorias ambientais de que tanto precisamos.

Quanto custa morar na margem sul, na região de Alcochete, e vir todos os dias para Lisboa?
Pressupostos:

- Carro ligeiro, utilitário, bastante eficiente e a gasóleo – 5 l/100 km; 98 g/km de CO2
- Distância diária (Alcochete – Saldanha – Alcochete) – 72 km
- Custo da portagem na Ponte Vasco da Gama – 2,1 € (inclui 10% de desconto do Via Card)
- Preço do gasóleo – 1,2 €/l

Fazendo as contas, obtém-se um encargo mensal de 141 euros e 158 kg de CO2.

Nos cálculos anteriores só se considerou o custo marginal, ou seja, esquecemo-nos dos custos do carro, das manutenções, do seguro, etc, etc. Parece-nos que a maioria das pessoas, que já tem o carro à porta de casa, é assim que faz as contas.

Mas, se pretendermos incluir o custo total, talvez não seja uma má aproximação utilizar o valor do custo por km pago na função pública (0,40 €/km). Ora, feitas as contas assim, o custo mensal passaria para 634 euros.

Saber se estes valores são altos ou baixos é uma tarefa complicada, dependente de muitos outros factores, tais como o orçamento disponível do utilizador do carro, a necessidade do carro para outras deslocações durante o dia, etc, etc. O que faz mesmo falta é contabilizar o número de horas perdidas.

Com este exemplo pretendemos mostrar que vale a pena ter em consideração o custo das suas deslocações quando escolhe o local onde vai viver. Lembre-se que para além do custo directo, tem o custo do seu tempo.